Resistência

A resistência faz parte do processo de luta por moradia. Aqui estão acompanhados os distintos movimentos de luta política que foram forjados pelos moradores de diferentes ocupações para fortalecimento da luta, bem como as articulações em rede que se constroem entre ocupações e parceiros de luta.

“É UM MOVIMENTO DE VIDA, PRA QUE TODOS TENHAM VIDA”

Maria Clara

“Andorinha só não faz verão, várias andorinha avoando faz zoeira!”

A luta pela moradia, segundo Dona Maria Clara, é um movimento para que todos tenham vida. Resistir, nesse sentido, é parte do processo de luta, de se ajuntar para continuar existindo e resistindo às opressões e desigualdades postas no modo de constituição das cidades e dos espaços. O reconhecimento dos distintos movimentos da política também é um ponto importante destacado por Dona Maria: “Mas a gente nem sabia que a gente estava fazendo uma política. [Com] Este nome política. Né? Aí vem uma voz. Oh isso aqui é uma política aí que a gente começou a conhecer o que é política”. Assim, os fios de construção de outras formas de política vão se unindo, pautando a força do trabalho coletivo para resistir. Como ela diz, “várias andorinha avoando faz zoeira!”, chamam atenção para suas pautas, encontram forças em parceiros de luta, fazem movimentos de enfrentamento político, mas também de alegria para a manutenção de um corpo “atento e forte”, como diz a canção. 

Rafaela

“Aqui somos famílias, não somos pessoas excluídas da sociedade, temos umas pessoas que reivindicamos o que é nosso.”

As práticas de resistência e os processos reivindicatórios que Rafaela nos narra estão intimamente relacionados às articulações em rede que se constroem entre a ocupação e parceiros de luta. Ela enfatiza que a aproximação com atores políticos propicia um enfrentamento mais efetivo, na medida em que adquirem as artimanhas necessárias para se inserirem nessa disputa política pela garantia de direitos. “Na ocupação a gente tem a articulação todos os dias pra que nossa ocupação saia, mas saia com alguma coisa”, diz Rafaela. Ainda assim, muitas portas são fechadas nesse embate político, o que requer que os ocupantes produzam estratégias inventivas de resistência. Frente a tantas negativas, Rafaela afirma: “Se eu estou vendo que uma porta não está abrindo, eu estou indo em outra porta pra tentar abrir a solução pra nossa moradia definitiva. (…) Ele [o prefeito] quer ir nessa queda de braço então a gente continua também na queda de braço ”.

Baiana

“E eles só foram parar quando ele viu a força do povo estava aumentando cada vez mais.”

Lutar por moradia na Vila Esperança implica em ação e Baiana é a figura que articula os moradores da comunidade para resistir aos diferentes enfrentamentos que se apresentam, ora convocando para lutar contra as máquinas: “pode retirar a máquina, se a máquina se mover aí nós bota fogo nela.(…) pessoal pega aí, pega que nós vão meter fogo”, ora ecoando suas vozes em manifestações “gritando, apitando, zoando…”, fazendo os enfrentamentos necessários para que outras instâncias escutem suas narrativas e denúncias da violação cotidiana de direitos básicos. Dentre tantas articulações, organizar o povo, a comunidade para não perder de vista que “nós estamos brigando pra conquistar a identidade daqui” e assim continuar disputando esse território, cujo pertencimento já está presente nas práticas de cuidado com a terra postas na Vila. Sobretudo, Baiana aponta que o “gostoso” da luta é perceber a união de diferentes forças: “movimento do trabalhador, aí vem um de um lado e vem de outro aí se junta tudo”.